Estreou envolto em polémica, amadureceu em palco durante 20 anos e, agora, vai poder ser “colhida” na Culturgest em Lisboa nos dias 16, 17, 18 e 19 de junho.
Falamos da peça “The Show Must Go On”, obra do bailarino e coreografo francês Jérôme Bel que faz uma meditação sobre a sociedade contemporânea pós-capitalista através da dissecação dos mecanismos do espetáculo.
Para transformar esta ideia em realidade, Bel coloca em palco 20 intérpretes, 19 canções e 1 DJ, que vai passando hits das últimas décadas. Brincando com as convenções da dança e apostando num registo minimalista, o coreógrafo coloca “The Show Must Go On” nas mãos da audiência dando-lhe, simultaneamente, tempo e espaço para descobrir a beleza e o interesse na mais simples das propostas cénicas.
Como dissemos, o momento da estreia desta peça, há exatamente 20 anos, gerou polémica na audiência do Théâtre de la Ville em Paris, dividindo opositores ferozes e fãs entusiastas. Tal como acontece um pouco com tudo na vida, o tempo veio amenizar esse sentimento dicotómico e a peça passou a ser apreciada pela simplicidade e o humor contagiante que transmite tornando-a num dos espetáculos mais bem-sucedidos da história da dança contemporânea.
Há 20 anos, numa entrevista concedida ao jornal Público pouco depois da estreia mundial de “The Show Must Go On”, Bel explicava que este espectáculo não pretendia ser um manifesto ideológico, mas antes uma espécie de ferramenta para o pensamento que colocava em confronto duas entidades: os artistas e o público.
“O público é uma espécie de co-produtor da peça, por isso nenhuma das minhas coreografias alcança a sua plenitude sem a colaboração dos espectadores. Só consigo compreender realmente os meus espectáculos durante as actuações. Antes disso, ando às voltas com dúvidas e questões. Ao vivo, a audiência dá-me respostas e ajuda-me a entender o que fiz”, afirmava, então, o coreógrafo.
Ao longo de uma história que já conta duas décadas, “The Show Must Go On” foi calorosamente recebida em mais de 100 cidades em todo o mundo e galardoada com o conceituado Bessie Award em Nova Iorque.
Por razões ecológicas e sempre que possível, as peças de Jérôme Bel já não viajam pelo mundo, mas são remontadas localmente, algo que também irá acontecer em Portugal, dado que a versão que se apresentará em Lisboa será remontada com um elenco português, numa coprodução entre o Teatro Municipal do Porto e a Culturgest.
De relembrar que esta não é a primeira vez que “The Show Must Go On” põe os pés em Portugal. A primeira apresentação da peça no nosso país aconteceu um ano depois da sua estreia mundial e decorreu no festival Danças na Cidade 2002 em Lisboa.
Como referimos, as apresentações de “The Show Must Go On” terão lugar a 16, 17, 18 e 19 de junho no Grande Auditório da Culturgest. Com excepção do dia 19 em que começa às 19 horas, os restantes três espetáculos têm início marcado para as 21 horas e duram 90 minutos.
Os bilhetes já se encontram à venda por 16 euros (sujeitos a descontos).
Nascido em 1964, Jérôme Bel descobriu a dança contemporânea em 1983 quando, em pleno Festival d’Avignon, vê “Nelken” de Pina Bausch e “Rosas danst Rosas” de Anne Teresa De Keersmaeker.
Depois de 6 anos a dançar para reconhecidos coreógrafos franceses e italianos anos, Bel estabelece parceria com Frédéric Saguette e começa a coreografar os seus próprios espetáculos seguindo a linha da “não-dança”, o que acabou por torna-lo num dos líderes deste movimento que tem tanto de provocador como de inspirador.
Assim, ao entregar o palco a intérpretes não tradicionais (amadores, pessoas com deficiência física e mental, crianças), demonstra uma preferência pela comunidade de diferenças em relação ao grupo formatado e um desejo de dançar que se sobrepõe à coreografia, aplicando apropriadamente os métodos de um processo de emancipação por via da arte e da cultura.