A corrida às moedas virtuais começou. Em abono da verdade, seria mais correto dizer que está no auge porque, de mansinho, as moedas virtuais ou criptomoedas têm vindo a ocupar um espaço cada vez mais relevante na economia mundial. Para proteger o seu sistema financeiro de moedas digitais desregulamentadas a União Europeia prepara-se para lançar o Euro Digital.
Bitcoin. O nome é familiar a muitos de nós e foi a primeira criptomoeda descentralizada (não está ligada a um banco central) a chegar ao mercado.
O que é Bitcoin e como funciona o blockchain?
Criada pelo programador japonês Satoshi Nakamoto em 2009, este tipo de moeda permite transações financeiras sem intermediários, mas verificadas por todos os utilizadores (nodos) da rede, que são gravadas num banco de dados distribuídos chamado blockchain.
O termo blockchain denomina uma rede descentralizada, isto é, uma estrutura sem uma entidade administradora central, o que torna inviável qualquer autoridade financeira ou governamental manipular a emissão e o valor da criptomoeda ou induzir a inflação com a produção de mais dinheiro.
Depois de anos a viver no submundo, as moedas virtuais conheceram valorizações exponenciais ao longo dos últimos anos levando governos e empresas privadas a apostarem na “mineração” deste tipo de dinheiro eletrónico.
A Islândia criou superestruturas computacionais que mineram (equivalente digital ao processo de impressão de notas tradicional) criptomoedas de forma intensiva e tem centenas de investidores em lista de espera para instalar novos computadores e minerar ainda mais bitcoins.
Se a “indústria de bitcoins” islandesa está amparada por um braço governamental, o mesmo não se pode dizer da “Libra”, moeda virtual anunciada pelo Facebook e logo alvo de violentas críticas por responsáveis da União Europeia que avisaram que aquela criptomoeda não seria bem-vinda.
Depois desta nega baseada na não garantia de que estes ativos digitais não representam riscos impossíveis de gerir e de defender a criação de condições monetárias e financeiras ordenadas, o Banco Central Europeu (BCE) veio levantar a hipótese do lançamento de um euro digital ao afirmar estar a pesar os benefícios, riscos e desafios operacionais de uma moeda digital do banco central europeu (CBDC).
Criar o Euro Digital como forma de proteção
Visto com bons olhos pela direção do BCE, a criação de um euro digital funcionará como um complemento ao dinheiro físico, que não desaparecerá, e uma alternativa às moedas digitais privadas de modo a garantir que o dinheiro soberano permaneça no centro dos sistemas de pagamento europeus.
O panorama financeiro mundial está em franca alteração com o advento não só das criptomoedas, como também de meios de pagamento digitais que estão a tornar o dinheiro físico obsoleto e a União Europeia não quer ficar para trás.
Importa referir que, já anteriormente ao anúncio do lançamento da moeda digital do Facebook, o BCE tinha criticado a tentativa da Estónia de criar uma moeda digital própria, a Estcoin e mostrado profundas reservas quanto ao yuan digital lançado pela China e que já concluiu a sua primeira fase de desenvolvimento.
Projeto-piloto de Euro Digital concluído com sucesso em França
Com esta abertura das entidades da UE a uma moeda digital europeia, os projetos-piloto multiplicam-se e já há conclusões positivas a tirar dos primeiros testes em França.
Apesar de encarar a utilização da moeda digital como uma forma de ajudar a melhorar o mercado financeiro e não com o intuito de utilizar este ativo no setor da banca comercial, o teste patrocinado pelo Banco Central francês com supervisão do BCE obteve resultados muito positivos, segundo os responsáveis.
Este teste envolveu a Société Générale Forge, que realizou a emissão de valores monetários em euros através da blockchain. O ativo digital daí resultante foi então colocado à prova como meio de aferir de que modo uma criptomoeda europeia pode ser utilizada para melhorar o mercado financeiro com particular foco sobre as remessas interbancárias.
O grande número de voluntários inscritos para o teste acaba por realçar o interesse genuíno das instituições bancárias europeias e afirmar que o setor financeiro do velho continente está a passar por uma fase de enorme dinamismo.
Com a conclusão desses testes a França torna-se assim o primeiro país da Zona Euro a aproximar-se de uma efetiva digitalização da moeda fiduciária (euro), colocando a economia europeia na “corrida ao dinheiro virtual” e, possivelmente, um passo mais próxima da comercialização de um euro digital.
Apesar das primeiras conclusões terem sido positivas, novos projetos e testes serão levados a cabo nos próximos tempos.
Com a entrada da União Europeia na “mina” da criptomoeda, a competição adensa-se. É de notar, contudo, que do outro lado do Atlântico, os EUA ainda não tenham avançado com qualquer informação ou carta de intenções em relação ao desenvolvimento de um dólar digital.