O nosso país tem uma riqueza cultural imensa. O território nacional pode não ter uma grande dimensão, mas não faltam tradições e festividades de aldeias portuguesas que encantam portugueses e os inúmeros estrangeiros que visitam / vivem no nosso país.
Muitas dessas tradições e festividades de aldeias portuguesas são eventos culturais que remontam a tempos bastante antigos, que quase foram esquecidas, mas que representam memórias preciosas de outro Portugal.
No presente artigo, iremos apresentar algumas tradições e festividades de aldeias portuguesas que quase foram perdidas. No entanto, felizmente, ganharam nova vida.
Festa dos Tabuleiros
A origem desta celebração remonta ao século XIX. A Festa dos Tabuleiros ocorre a cada quatro anos, sempre no mês de julho. O evento estende-se ao longo de 10 dias.
A transmissão desta manifestação é intergeracional, realizada por via da oralidade, observação e prática. Esta festividade envolve todos os elementos da comunidade e visa fortalecer os laços de pertença e de construção identitária.
A participação feminina destaca-se no evento, protagonismo concedido pela qualidade de portadora do Tabuleiro.
Bicas das madrinhas
Na manhã do dia 1 de novembro, é realizado um evento peculiar na Beira Litoral e na Beira Alta. Neste dia, madrinhas e padrinhos oferecem “bicas” aos seus afilhados. As chamadas bicas consistem em pão de azeite, não fermentado, espalmado, retangular.
Noutras regiões do território português, por este dia, oferecem-se bolinhos dos santos ou broinhas, parentes, amigos e vizinhos presenteiam-se para estreitar laços entre si.
Mesa posta para os defuntos
Em Barqueiros, à meia-noite do dia 1 de novembro, a mesa é composta com castanhas, tratando-se de um presente oferecido aos parentes falecidos, para estes as comerem durante a noite. A comida “que sobra” não pode ser tocada pelos vivos, pois está “babada dos mortos”.

Pau das Almas
Em Bragança, no dia 1 de novembro, é celebrado o “Pau das Almas”. Esta tradição pode estar a cair em desuso. Contudo, não podemos deixar que caia no esquecimento.
Logo pela manhã do Dia de Todos os Santos, grupos de rapazes deslocam-se ao monte, visando cortarem lenha para venderem no adro da igreja. O dinheiro angariado neste feriado com a venda de lenha é aplicado no dia seguinte (dia dos finados). Portanto, contribui para missas rezadas para celebrar a memória das almas do Purgatório.
O Vinho dos Mortos
Esta velha tradição portuguesa remonta a uma época histórica que não traz boas memórias… No início do século XIX, o território português encontrava-se a vivenciar os efeitos da Invasão Napoleónica.
Ora, nesse contexto, os portugueses vinhateiros elaboraram uma estratégia para esconder e guardar um bem precioso, o vinho. O método que arranjaram para evitar a pilhagem dos soldados foi o de enterrar as garrafas de vinho no chão.
Após os combates com as tropas francesas cessarem, os portugueses foram recuperar os seus vinhos. Após serem desenterrados, os vinhos foram provados e houve uma agradável surpresa: estavam particularmente saborosos, com uma qualidade superior.
Com o passar do tempo, a prática de enterrar o vinho diminuiu. Contudo, ainda há produção do “Vinho dos Mortos”. Esta tradição cultural ainda é preservada em Boticas. Algumas vinícolas desta localidade ainda produzem este vinho com os métodos antigos.
Pão por Deus
Esta tradição portuguesa é provavelmente a mais famosa, celebrada no Dia de Todos os Santos. Ela é celebrada a 1 de novembro em várias regiões de Portugal, especialmente na zona centro e sul do país.
Nesta tradição, as crianças vão para as ruas em pequenos grupos. Elas batem de porta em porta, pedindo o “Pão por Deus”. Os petizes recitam alguns versos (“Pão por Deus, Fiel de Deus, Bolinho no saco, Andai com Deus.).
Antigamente, recebiam como recompensa pão, romãs, bolos, broas, nozes, amêndoas e castanhas. Por vezes, até dinheiro era oferecido. Hoje em dia, as crianças recebem como oferenda pão ou bolo, mas também guloseimas, sinal dos novos tempos.
Carnaval de Podence
O Carnaval de Podence podia ter sido esquecido, mas manteve-se na memória e hoje é Património Imaterial da Humanidade.
Atualmente, este evento colorido revela-se a festa mais marcante do concelho de Macedo de Cavaleiros. Os Caretos são os verdadeiros protagonistas desta festividade que tornou Podence numa referência nacional.
Os caretos são jovens que usam máscaras de lata ou couro. Estas figuras emblemáticas apresentam também fatos de cores garridas, com franjas de lã colorida. Os chocalhos que trazem à cintura fazem um barulho ensurdecedor, chamando a atenção quando os caretos se deslocam em saltos e correrias pelas ruas de Podence.
Abóboras esculpidas
Apesar das abóboras esculpidas serem uma tradição e um costume de Halloween, também estão presentes nas tradições portuguesas. Na aldeia de Vila Nova de Monsarros, há a tradição das abóboras esculpidas.
As crianças da aldeia faziam os “santórios” que consistiam num peditório noturno onde se recebia bolos e frutas variadas. Eles transportavam uma abóbora oca, que representava um rosto, com dois buracos a parecerem dois olhos e que revelavam a luz de uma vela acesa no seu interior.
Visitas aos cemitérios
A visita a cemitérios é uma parte comum do Dia de Todos os Santos. Esta tradição visa homenagear os familiares que já não estão entre nós com flores e velas.
