Depois dos investimentos verdes, prosseguimos o nosso périplo pela paleta de cores da sustentabilidade e parámos na “economia azul”.
Ao contrário da tradicional “Economia do Mar” onde se procede à maximização da exploração dos recursos marinhos, a economia azul faz entrar nesta equação o desenvolvimento sustentável das comunidades costeiras e a preservação dos ecossistemas marinhos.
Por outras palavras, a economia azul é uma economia do mar sustentável que resulta do equilíbrio entre a atividade económica e a capacidade a longo prazo dos ecossistemas oceânicos para suportar essa mesma atividade.
Economia Azul como oportunidade de crescimento sustentado
Com 41% do seu território a corresponder ao mar e à sua Zona Económica Exclusiva (ZEE), Portugal é um dos principais interessados na exploração e preservação destes recursos.
Segundo um estudo publicado pela WWF em conjunto com o Oceanário de Lisboa/Fundação Oceano Azul, 71 das 93 áreas protegidas marinhas nas águas sob jurisdição portuguesa são apenas “moderadamente protegidas”.
Isto significa que, apesar dos esforços, permiti-se nelas atividades com potencial impacto nos ecossistemas.
Num país onde o turismo e as pescas respondem por nove em cada dez euros dos lucros das atividades ligadas ao mar no nosso país, a implementação de uma estratégia que diversifique e preserve os recursos marinhos é mais do que premente.
E é aqui que entra a economia azul.
Além de atuar sobre estes setores mais tradicionais com vista à sua viabilidade futura (sem peixes não há pesca, por exemplo), a economia azul foca-se no desenvolvimento de áreas com grande potencial de crescimento como a aquacultura, biotecnologia marinha, energias renováveis ou a mineração dos fundos marinhos.
Veremos, agora, em maior detalhe de que forma Portugal está a aproveitar as oportunidades que a economia azul abre:
- Parques eólicos offshore
Apesar de representar apenas 0,1% dos empregos e 0,5% do valor acrescentado bruto da economia azul na Europa, este é o setor que mais está a crescer.
Na Europa, já há cerca de 5000 turbinas eólicas instaladas no mar, a maior parte no Reino Unido e Alemanha. A capacidade instalada pode quintuplicar até 2030, segundo a associação europeia do setor, a Wind Europe.
Em Portugal, a EDP Renováveis tem em curso um projeto de demonstração pré-comercial, o Windfloat Atlantic, em que enormes aerogeradores são suportados por plataformas flutuantes semissubmersíveis.
Por agora, a primeira etapa deste projeto já está em marcha com a instalação de três aerogeradores implantados ao largo de Viana do Castelo, produzindo eletricidade suficiente para abastecer 60 mil habitações.
- Aproveitamento da energia das ondas
Depois do inovador Pelamis, projeto em que estruturas flutuantes ligadas entre si oscilavam ao sabor das ondas, produzindo electricidade ter chegado ao fim, a empresa sueca CorPower Ocean prepara-se para investir 52 milhões de euros em Viana do Castelo em equipamentos par o aproveitamento da energia das ondas.
- Aquacultura
Tida como uma excelente alternativa à sobrepesca, a aquacultura está em franco crescimento no nosso país.
Ainda que esta atividade produza no nosso país apenas o equivalente a um décimo do que a pesca traz do mar, a aquacultura registou um aumento de 70% no volume (+5,7 mil toneladas) e de 126,3% no valor (+54 milhões de euros) nas vendas quando se comparam os dados de 2010 e 2018, respetivamente.
Moluscos e crustáceos são as principais espécies produzidas neste setor: 9,4 mil toneladas.
- Mineração dos fundos marinhos
Areia, cascalho e sal são, para já, o grosso daquilo que Portugal retira dos fundos marinhos, mas agora as atenções estão voltadas outros recursos que estão no fundo do mar.
Entre eles contam-se as crostas, nódulos e sulfitos polimetálicos contendo manganês, ferro, alumínio, níquel, cobre, cobalto e uma série de outros minerais.
A Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental já fez um primeiro retrato do que existe na zona marítima sob jurisdição portuguesa, mas o conhecimento ainda não é suficiente.
Dizem os responsáveis por este estudo que falta, sobretudo, definir blocos de minério com dimensões, teores e outras características favoráveis, que viabilizem a sua extração com benefícios económicos para o nosso país, incluindo a proteção ambiental.
Estratégia “Crescimento Azul”
É impossível pensar numa economia azul integrada se cada país puxar a brasa à sua sardinha. Por isso, reconhecendo a importância dos mares e oceanos enquanto motores da economia europeia, a Comissão Europeia desenvolveu a estratégia “Crescimento Azul”.
O grande objetivo desta estratégia passa por apoiar a longo prazo o crescimento sustentável no conjunto dos setores marinho e marítimo contribuindo para uma política marítima integrada para a realização dos objetivos da estratégia Europa 2020.
Esta estratégia assenta em três vertentes:
1 – Medidas específicas em matéria de política marítima integrada
- Conhecimento do meio marinho para melhorar o acesso à informação sobre o mar
- Ordenamento do espaço marítimo a fim de garantir uma gestão eficaz e sustentável das atividades no mar
- Vigilância marítima integrada para dar aos responsáveis uma melhor imagem do que se passa no mar
2 – Abordagens específicas por bacia marítima, a fim de assegurar a combinação de medidas mais adequadas para promover um crescimento sustentável que tenha em conta os fatores climáticos, oceanográficos, económicos, culturais e sociais locais:
- Mar Adriático e Mar Jónico
- Oceano Ártico
- Mar Báltico
- Mar Negro
- Mar Mediterrâneo
- Mar do Norte
3 – Abordagens específicas por atividade
- Aquicultura
- Turismo costeiro
- Biotecnologia marinha
- Energia dos oceanos
- Exploração mineira dos fundos marinhos