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Internacional

Consumo por vingança ou poupança? O que esperar para o fim das restrições

Consumo por vingança

O fim das restrições impostas pela pandemia pode estar para breve, mas o que virá depois ainda é uma incógnita: iremos continuar na espiral de poupança dos últimos meses ou irá ser adoptado o modelo de consumo por vingança em Portugal à semelhança do que aconteceu na China?

Taxa de poupança regista novos máximos em Portugal

De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), desde o segundo trimestre de 2020, a taxa de poupança das famílias portuguesas tem vindo a crescer. Neste período, essa taxa aumentou para os 10,6%, enquanto no trimestre seguinte foi ainda mais longe tendo-se fixado nos 10,8%, igualando o recorde atingido no segundo trimestre de 2013.

Os depósitos bancários seguem o mesmo caminho.

Só desde abril foram depositados mais 8,6 mil milhões de euros pelas famílias nas instituições bancárias e, neste mês de janeiro, atingiu-se um novo recorde de 162,8 mil milhões de euros no que toca ao valor total guardado por particulares em contas de depósito.

Estes números pertencem ao Banco de Portugal que nos diz ainda que, desde a chegada da pandemia a Portugal, tem-se registado um constante aumento mensal do valor depositado pelas famílias nos bancos com excepção do mês de agosto onde o montante baixou relativamente a julho.

Mas será que, findas as restrições impostas pela pandemia, assistir-se-á a um consumo por vingança (revenge spending)?

A crer na palavra de Filipe Garcia, economista-chefe do FMI, depois da tormenta será de esperar um aumento do consumo de toda a ordem e, em especial, nos setores dos serviços, turismo e vestuário.

Assim, garante o especialista, poderá existir espaço para um “revenge spending“, especialmente numa fase inicial da retoma em que será provável que não se poupe nada do que se ganhe.

Apesar deste cenário de “mãos largas”, as famílias portuguesas irão, muito provavelmente, reter uma parte das suas poupanças dado que os perfis de consumo não se alteram de forma assim tão radical, podem existir receios de uma nova “vaga” da pandemia e, porque muitos portugueses viram as suas finanças duramente atingidas e poderão sofrer novo impacto negativo com o fim das moratórias.

O exemplo chinês

Se há país no mundo que possa ser tomado como caso de estudo nesta questão do consumo por vingança pós-restrições é a China.

Depois de medidas draconianas de contenção da pandemia terem sido impostas no país no início de 2020, o número de casos baixou e a vida regressou em quase todo o seu esplendor a Wuhan (presumível “ground zero” da pandemia), em particular, e a toda a China em geral.

Segundo a Bloomberg, com as medidas de quarentena a serem aliviadas, os consumidores chineses estão, lentamente, a regressar às lojas e centros comerciais, impulsionando, por exemplo, o mercado de luxo.

Curiosamente, o mercado de luxo está na origem da expressão “revenge spending”.

Depois da morte de Mao Tsé Tsung em 1976, ascende ao poder Deng Xiaoping. Eternizado como o “Grande Arquiteto” da abertura da China à economia de mercado, Deng Xiaoping engendrou e fez aprovar as linhas gerais de um programa económico que cortou com a austeridade do período anterior.

Assim nasceu o revenge spending nos anos 80 na China.

Depois das fortes restrições ao consumo que se viveram durante a Revolução Cultural, aqueles que tinham as suas carteiras recheadas decidiram dar largas às suas extravagâncias e compravam tudo aquilo que lhes aparecia pela frente, desde que, claro, fossem bens de luxo.

Aliás, o consumo de luxo na China representa mais de um terço das vendas da indústria de luxo a nível global e dois terços do seu crescimento nos últimos anos.

Durante o surto de covid-19 no Império do Meio, as lojas tiveram uma quebra de 80%, fazendo cair para metade as vendas de várias marcas de luxo, como a Gucci ou Burberry, mas como referimos, o panorama está a mudar e o revenge spending parece ter-se instalado.

Conclusão: Consumo por vingança ou poupança?

A pandemia de Covid-19 tem sido “trabalhada” de diferentes formas em todo o mundo. A maior parte dos países do mundo não pode, nem consegue, gerir a pandemia como a China o fez.

Mesmo agora, com as vacinas a prometerem “amanhãs que cantam”, todas as cautelas são poucas. Em Portugal, como em outros territórios, a desconfiança em relação ao futuro é ainda grande.

A vontade de consumir é muita, mas finanças pessoais depauperadas por mais de um ano de pandemia e a incerteza podem transformar a perspectiva de um revenge spending num tiro de pólvora seca.

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